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Um pesadelo chamado São Paulo.

Foto por: Lucia Torres

São Paulo é uma cidade impossível… Quando era menor haviam três cidades que eram tidas como mais populosas e/ou maiores do mundo (Índia e China, por motivos que desconheço, não tinham suas cidades levadas em consideração), eram elas, São Paulo, Cidade do México e Nova Iorque. Não sabia eu à época, mas eram três bombas… São Paulo e Cidade do México continuam sendo, em Nova Iorque há uma lenda dizendo que com a administração e política “tolerância zero” de Rudolph Giuliani, a situação melhorou bastante.

É incrível como São Paulo aqui no Brasil (dizer no Brasil é uma injustiça, aqui no NORDESTE pelo menos, é assim), principalmente entre a classe média, e média alta, tem uma aura de cidade santa, dizem todos, se tratar de “outro mundo” e conhecer a cidade eleva a pessoa a um status de iniciada, e dá direito a voz em certas rodas sociais. Críticar a cidade é um pecado. E para não críticar vou apenas comprarar (não com Nova Iorque, por motivos óbvios, além de mais dinheiro existir por lá, se a administração de Giuliani tiver sido metade da panacéia que dizem que foi, e com seus 1.062km de linhas de metrô, que o torna o maior metro do mundo, já seria suficiente para acabar o páreo), mas sim com a Cidade do México, oras, por motivos óbvios tambem, dois países pobres, corruptos e violentos.

E ai se chega a São Paulo, bom, aqui no Brasil, mesmo cidades pequenas, e menos populosas (BEM menos populosas), tem problemas com violência e educação… Quem chega daqui, ali, hospeda-se num hotel, e fica BEM longe do caos que é a cidade. Longe dos alagões, longe da violência, longe da polícia corrupta longe do serviço de transporte público, que impressiona, todos falam dos excelentes 61,3 km de linhas de metrô que há na cidade, que impressionam quando não se sabe que na Cidade do México tão grande em tamanho quanto São Paulo, e tão problemática quanto, há 202 km de linhas, mais de três vezes o tamanho, e na pequena Santiago do Chile, nem maior nem mais desenvolvida que São Paulo (isso dizem), há 104,2 km em linhas e 14,8 km já em construção.

Isso para não falar que, oras, num país onde uma cidade com quase 400.000 habitantes, há problemas com violência e educação suficientes para um pequeno país, em São Paulo com seus mais de 10 milhões de habitantes, é até lógico que seja o caos. Mas parece que todos preferem fechar os olhos a isso e ver apenas o que interessa… Uma grande cidade, maravilhosa? Insatisfeitos, 57% dos paulistanos deixariam SP se pudessem, diz pesquisa, eu tambem deixaria se tivesse oportunidade…

PS: A foto foi tirada por Lucia Torres, uma colombiana, que foi a São Paulo, e adorou… =)

O holandês voador.

Agora durante essa época de verão, alguns dias fomos a piscina. Aqui há piscinas públicas, muitas em toda a cidade, onde todos vão, durante o verão, aproveitar o sol e levar a família. Bom, eu Marcelo e Thiago, somos brasileiros muito atípicos, considerados assim por todos que conhecemos nas piscinas, pois estávamos sempre a procura de uma sombra, de camisa, etc, etc, etc. São ambientes muito bacanas, crianças por todas as partes, meus sobrinhos iam gostar muito, e eu me lembrei bastante deles enquanto ai estava.

Dentre o muitos turistas que visitam as piscinas, conhecemos um holandês de avô materno brasileiro. Engraçado e muito conversador, que me fez tambem recordar um pouco do povo brasileiro, com aquela nostalgia mentirosa de quem acha que o povo do Brasil é daquele jeito… Mas enfim…

No meio da conversa, perguntamos sobre as drogas na Holanda, sobre essa coisa da liberalização e etc. Como o povo do país via aquilo, enfim… Bom, a primeira coisa que ele falou, foi sobre o perigo, antes havia gente perigosa andando pelas ruas, e vendendo drogas, o termo “perigosa” que ele usou, há de ser entendido com cuidado, não eram traficantes assassinos sanguinários, era gente perigosa, como gente perigosa deve ser, assassinos são outra coisa, essa ressalva deve ser feita pelo fato de estarmos acostumados, a achar perigosos, outros tipos de meliantes.

Sobre o perigo, ele falou que essa gente parou de andar pelas ruas e inspirar medo nos locais. Passaram a ser simples… Pessoas? Depois falou sobre o consumo, e sobre a sua relação com o povo de Amsterdã, disse que os locais, claro se sentem a vontade para fazer o que lhes dê na gana, mas que para ele, assim como para a maioria, tais drogas eram uma coisa de criança, adolescentes, que experimentou quando tinha 12 (DOZE) anos e só isso… Que hoje poderia até consumir, dependendo da ocasião e da companhia, mas não gasta um tostão do próprio bolso para comprar nada.

Isso tambem me fez lembrar do Brasil, onde se usa a desculpa do consumo de drogas para as mais variadas situações violentas que ocorrem na sociedade, e quando se quer marcar um delinquente como perigoso, se usa a alcunha de drogado, seja bêbado, maconheiro ou a que se queira. Como se a droga fosse desculpa pra pessoa ser violenta e não ter educação. Sobre isso acho muito plausível o exemplo dos cachorros, que aqui todos tem e andam com eles pelas ruas, a grande maioria com uma luva de plástico para recolher a caca deles quando a fazem pela rua, estranhamente pelo numero elevado de cachorros que há, não ouvimos falar de cachorros violentos que atacam e matam outras pessoas. Ora, cachorros não matam pessoas do nada, são treinados pra isso, por pessoas sem educação, drogadas ou não.

Quando se convive com a violência, ela se torna um hábito, que as vezes sobrepuja todos os outros hábitos, e costumes, que não seriam nada demais, se não fosse a violência.

A visita.

Durante um mês recebemos a visita ilustre daquela que é praticamente responsável por nosso doutorado, Sabrinna.
Bom, o começo como sempre foi muito atribulado, mesmo porque o apartamento estava uma pocilga, heheheheheheh, quinze dias que não lavávamos a frigideira, apesar de fritar ovos todos os dias. Isso pra ficar só na frigideira, então chegamos a conclusão que deveriamos limpar algo para que ela chegasse. Limpamos. Em apenas dois dias conseguimos varrer, e lavar os pratos e tirar por baixo uns seis sacos de lixo de dentro de casa. “-Bacana!”, como diria o boy.
Bom, com Sabrinna aqui, devidamente alojada, agora era hora de nos habituarmos a terceira pessoa sempre em casa, pois apesar de termos a companhia ilustre de Danilo, que alugou um quarto por três semanas, mas só as vezes aparecia em casa, mesmo assim, pra dormir, quando não, com um saco cheio de cervejas, quase nunca desperdiçadas.
Mas enfim, Sabrinna em casa, doida pra estudar, e como somos muito comportados, a deixamos em paz… Hum… Tambem não, como relatado exaustivamente em posts anteriores, fomos a Barcelona e arrastamos Sabrinna conosco, que nunca nos deixava esquecer do quanto ainda tinha que escrever para falar com sua orientadora!
E escreveu, nos dias que se passaram mal nos viamos, visto que estava sempre em seu quarto, quando não escrevendo, falando com Reginaldo (que não usa o Skype pra falar comigo, mas estranhamente usa pra falar com Sabrinna), ou então, quando nos víamos a noite, quando ela saia para ver algum seriado na TV de sua preferência, e da de Thiago também claro, mas da preferência de Thiago são todos os seriados, é incrível!!!
Nesse meio tempo, Marcelo veio aqui algumas vezes e aprendi com ele alguns segredos da arte culinária, me aproveitando das duas cobaias humanas que tinha em casa para tanto. E poupando é claro, Sabrinna dos pratos mais apimentados. O que depois não foi fonte de grandes problemas, pois decobri que posso usar a pimenta preta no lugar do sal.
Bom, Sabrinna ainda foi a Turquia com a super delegada Aureci, e seu trabalho sempre a tira colo. Ainda bem que lhe deu tempo de preparar tudo e falar com sua tutora, pois estávamos pensando já que Sabrinna cometeria um assassínio coletivo aqui em casa caso não houvesse tido tempo suficiente para tudo.
E como não poderia deixar de ser, ao fim de sua estada, e com tudo pronto e acabado, saimos a espanhola para comemorar o final de mais uma etapa de seu doutorado!

Congresso, terrorismo e cinema.

Bom, participei aqui do XXI Congreso Universitario de Alumnos de Derecho Penal, bom, pra falar um pouco do congresso, que teve algumas palestras bem interessantes (já que estamos a beira da reforma do código penal daqui que é de 1995) e que refletem bem o que acabou por se tornar o problema do terrorismo e imigração ilegal entre outras coisas*… E outras nem tanto, “Las soluciones penales a conductas ilícitas relacionadas con el deporte”, como assim???? Vão prender o atleta? Não, o técnico? Os dois? O time todo… Ha tá, entendi.

Porém, o interesante ocorreu realmente nas entrelinhas, teve um comes e bebes do congresso, onde por acaso conheci um danado de um escocês*, professor de espanhol e pós-graduando em alguma coisa aqui, bom, infelizmente, como mau brasileiro que sou, não conversei sobre futebol (o que sempre desperta a curiosidade de todos: “-Como pode, um Brasileiro, com camisa da Argentina, num congresso?? Três dias seguidos?? E não lava não é??”), mas não considero meus conhecimentos acerca da matéria suficientes ou interessantes o bastante para estabelecer uma conversa com alguém (pra teimar sim, conversar não…), então fui falar sobre outra coisa que desse melhor proveito…

E eis que me lembro de um filme, e uma das beneces de sempre pegar os filmes pela internet, é que, ás vezes, lembro seus títulos originais. Bom ao falar de um filme, ele fez aquela cara de, hum, essa cara mesmo, e disse: “-Hááá, Braveheart…………”. Falei, não, The Wind That Shakes the Barley, meu, o cara pirou, bom, antes de mais nada, o filme mostra um pouco do processo de independência da Irlanda e da formação do IRA*. Bom, não descrevo aqui a conversa toda, mas ele disse uma coisa linda, que mostra todo o amor e apreço que eles sentem pelos ingleses: “Viu? Como eles são todos uns filhos da p…!”

Bom, recomendações a parte, a matança nesse caso faz bem mais sentido pra mim que a matança de “Tropa de Elite”, e o filme também é melhor. Vai mais um trailer ai?

*1 – Bom, congresso de direito penal, e o camarada vem dizer que a imigração aumentou 10% de 1995 pra cá, e no mesmo período a população carcerária de imigrantes aumentou 40%, estranhamente a Espanha tem um baixo índice de criminalidade dentro da União Européia, mas é um dos paises em que mais há presos… Dicussões sobre penas acessórias onde, após o cumprimento de pena privativa de liberdade, se poderia ainda aplicar uma outra, com localização por GPS do indivíduo que “pagou sua dívida com a sociedade”, claro inicialmente para crimes sexuais e terrorismo, mas há julgar pelas primeiras estatísticas, não demora muito pros imigrantes (legais ou não), ganharem as seus GPS de estimação (turistas se preparem… Voces são os próximos). Qualquer relação com políticas semelhantes norte americanas não é mera coincidência.

*2 – Sim, ele era escocês, e o filme é irlandês… Talvez ele tenha apenas aproveitado a oportunidade para falar mal dos ingleses, inimigo comum de sempre…

*3 – Bom, coloquei o artigo em espanhol pois o artigo em português que fala sobre o IRA é uma negação, mas depois vi que realmente o melhor é mesmo o em inglês

Faca na caveira.

Terça-feira fui a uma apresentação de Tropa de Elite no Instituto de Estudos Iberoamericanos da Universidade de Salamanca, na verdade era uma aula do mestrado de Ciências Políticas da USAL, em que de 2 em 2 semanas se assiste a um filme latino americano de cunho político / social e se fazem posteriores discussões, bem lógico que só há alunos latino americanos na sala (ninguém do Brasil, afinal, pra que se preocupar com besteiras de cunho social, quando a venda da Vale é muito mais importante).

Já havia visto o filme, engraçado como a galera de outros paises (também latino americanos, também com seus problemas sociais crônicos) não enxergaram o que muitas pessoas enxergaram no Brasil, parece que se viu o filme com muito mais senso crítico talvez, talvez os alunos do mestrado tenham mais senso… Havia um cientista político da Universidade Federal de Pernambuco apresentando o filme junto a uma professora da USAL, e na verdade, críticas a parte, me chamaram a atenção duas perguntas em particular: Primeiro a de um rapaz, que perguntou se quando o traficante viu a tatuagem no braço do policial ferido, se assustou e saiu da cena do crime, não havia um certo exagero cinematográfico, pois em seu país, quando se matam policiais, isso não ocorre; logo em seguida a de uma menina, que perguntou, se o sistema é todo corrupto, a que se propõe na realidade o Bope?

Bom, a segunda questão, o cientista político respondeu muito bem, o Bope existe como um grupo para-militar de extermínio para proporcionar uma certa ilusão de segurança a elite carioca ( o “para-militar de extermínio” é por minha conta, ficou bonito, não ficou?? =)), bom, quanto a segunda pergunta, se há ou não o exagero, eu mesmo não sei dizer, o que sei é que quando se morre um policial no Brasil, com Bope ou sem Bope, também não acontece nada de extraordinário, mas o filme não mostra isso, mostra o que seria a realidade do Bope…

Pra quem não viu, vale a pena, se não morar no Brasil talvez entenda melhor o filme… hehehehehehe
Ai vai o trailler.

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